Entre 2014 e 2016, as regiões central e oeste da África sofreram uma grave epidemia de febre hemorrágica causada pelo vírus ebola, que se manifesta em até 21 dias após a infecção e cuja taxa de letalidade (enfermos que vão a óbito) pode chegar a 90%. Em regiões de clima tropical e subtropical, um outro vírus também pode causar febre hemorrágica: o vírus da dengue, que, embora tenha período de incubação menor (até 10 dias), apresenta taxa de letalidade abaixo de 1%. 

Disponível em: http://www.who.int. Acesso em: 1 fev. 2017 (adaptado). 

Segundo as informações do texto e aplicando princípios de evolução biológica às relações do tipo patógeno-hospedeiro, qual dos dois vírus infecta seres humanos há mais tempo? 

A) Ebola, pois o maior período de incubação reflete duração mais longa do processo de coevolução patógeno-hospedeiro. 

B) Dengue, pois o menor período de incubação reflete duração mais longa do processo de coevolução patógeno-hospedeiro. 

C) Ebola, cuja alta letalidade indica maior eficiência do vírus em parasitar seus hospedeiros, estabelecida ao longo de sua evolução. 

D) Ebola, cujos surtos epidêmicos concentram-se no continente africano, reconhecido como berço da origem evolutiva dos seres humanos. 

E) Dengue, cuja baixa letalidade indica maior eficiência do vírus em parasitar seus hospedeiros, estabelecida ao longo da coevolução patógeno-hospedeiro.

Como a biologia explica a diferença entre dengue e ebola? Essa é uma pergunta típica do ENEM, que exige compreensão sobre parasitismo, coevolução e relações ecológicas. Nesta questão resolvida da prova de Biologia do ENEM 2021, você vai entender por que a dengue apresenta baixa letalidade em comparação com o ebola — e o que isso revela sobre o tempo de interação entre os vírus e os seres humanos.

O parasitismo é uma interação ecológica desarmônica, que envolve espécies diferentes sendo, portanto, classificada como interespecífica. Nessa relação, uma das espécies – denominada parasita – é beneficiada, enquanto a outra – o hospedeiro – é prejudicada. O parasita explora o hospedeiro para obter nutrientes, local apropriado para reprodução e, até mesmo, meios de garantir sua dispersão.

Os parasitas normalmente são nocivos à saúde do hospedeiro. Entretanto, a morte da espécie hospedeira não é vantajosa para o parasita. Uma vez que o hospedeiro é uma fonte de nutrientes, a morte desse organismo pode colocar em risco a sobrevivência do próprio parasita.

De modo geral, os parasitas são seres muito menores do que suas espécies hospedeiras e se reproduzem mais rapidamente de que esses organismos, apresentando um modo de vida muito especializado.

A relação de longa duração entre parasitas e hospedeiros leva à coevolução entre eles. Esse processo corresponde à evolução conjunta de duas espécies em interação ecológica, cada uma evoluindo em resposta à seleção imposta pela outra.

Na coevolução, a seleção natural favorece aqueles indivíduos que – dependendo da interação – mais efetivamente resistem ou cooperam com os organismos da outra espécie com os quais se relacionam. Portanto, no caso do parasitismo, é vantajoso para o hospedeiro desenvolver mecanismos anatômicos, fisiológicos e bioquímicos que reduzam ou impeçam possíveis prejuízos causados pela presença do parasita. Por sua vez, obter os nutrientes de que necessita e se reproduzir afetando minimamente a saúde do hospedeiro são, também, características evolutivamente interessantes para o parasita.

O processo de coevolução é lento e, portanto, ocorre em interações ecológicas que se iniciaram há longo tempo. Devido a isso, hospedeiros que estão em contato há mais tempo com determinado parasita são mais tolerantes a ele do que aqueles cujo contato é recente. Por exemplo, apesar de provocarem febre hemorrágica em humanos, os vírus ebola e da dengue promovem diferentes taxas de letalidade. Portanto, pode-se inferir que, por ser mais nociva, a interação entre os humanos e o vírus ebola é mais recente do que com o vírus da dengue. O contato mais longo entre humanos e o vírus da dengue, possibilitou um processo de coevolução no qual esse microrganismo se tornou menos letal (em comparação com o ebola), enquanto os hospedeiros humanos aumentaram sua tolerância à presença desse parasita.

Para responder a essa questão é necessário considerar que, quanto mais longo for o período de interação entre duas espécies, maior é a probabilidade de que elas desenvolvam – por coevolução – características que as tornem mais adaptadas a essa relação.

Com base nisso, é possível afirmar que, dentre os vírus citados, o da dengue infecta seres humanos há mais tempo, já que é menos letal do que o ebola. Devido a um período mais longo de coevolução com os seres humanos do que o vírus ebola, o causador da dengue tornou-se mais eficiente em sua atividade parasitária (provocando menor letalidade), enquanto os hospedeiros humanos se tornaram mais tolerantes à presença desse parasita.

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