Para explicar a absorção de nutrientes, bem como a função das microvilosidades das membranas das células que revestem as paredes internas do intestino delgado, um estudante realizou o seguinte experimento:

Colocou 200 ml de água em dois recipientes. No primeiro recipiente, mergulhou, por 5 segundos, um pedaço de papel liso, como na FIGURA 1; no segundo recipiente, fez o mesmo com um pedaço de papel com dobras simulando as microvilosidades, conforme FIGURA 2. Os dados obtidos foram: a quantidade de água absorvida pelo papel liso foi de 8 ml enquanto pelo papel dobrado foi de 12 ml.

Com base nos dados obtidos, infere-se que a função das microvilosidades intestinais com relação à absorção de nutrientes pelas células das paredes internas do intestino é a de

A) manter o volume de absorção.  

B) aumentar a superfície de absorção.  

C) diminuir a velocidade de absorção.  

D) aumentar o tempo de absorção.  

E) manter a seletividade na absorção.  

Uma das características observadas nas células que constituem os tecidos, sejam eles animais ou vegetais, é a especialização morfológica (ou seja, de sua forma) para cumprir suas funções. Os neurônios, por exemplo, exibem longas projeções citoplasmáticas, os axônios, para que possam conduzir o impulso nervoso entre pontos distantes no organismo.

Nas raízes das plantas, a região responsável pela absorção de água e minerais apresenta um tecido de revestimento – a epiderme – no qual observam várias células alongadas denominadas pelos absorventes (Figura 1). Essas estruturas aumentam a superfície de contato entre a raiz e o solo e, como consequência, aumentam a quantidade de nutrientes absorvidos.

A relação entre forma e função das células é observada também no intestino delgado. Nessa região do sistema digestório, além dos processos enzimáticos da digestão química, ocorre também a absorção de nutrientes, tais como glicose, aminoácidos, nucleotídeos, ácidos graxos, dentre outros. Devido a isso, nesse órgão há três tipos de adaptações que o tornam muito eficiente em sua função de absorção: pregas circulares, vilosidades e microvilosidades (Figura 2).

Essas modificações aumentam a superfície de contato entre o intestino e o seu conteúdo, ou seja, os nutrientes. Sendo assim, contribuem para tornar a absorção dessas moléculas mais eficiente.

As pregas circulares são dobras da parede do intestino delgado. As vilosidades, por sua vez, são dobras da superfície das pregas circulares. Já as microvilosidades são projeções do citoplasma e da membrana plasmática das células do tecido epitelial que reveste a superfície interna do intestino delgado (ou seja, reveste a superfície das pregas circulares e de suas dobras, as vilosidades). As microvilosidades têm forma de dedos e estão na região celular voltada para a cavidade intestinal, de forma que ficam em contato com o conteúdo desse órgão.

Dessas três estruturas, somente as microvilosidades são adaptações celulares. As pregas circulares a as vilosidades são modificações de toda parede intestinal, isto é, são alterações dos tecidos da parede dessa região do tubo digestivo.

Como visto, as microvilosidades são projeções celulares que promovem aumento da superfície de contato entre a parede do intestino delgado e o material a ser absorvido. Vamos considerar que as figuras apresentadas no enunciado da questão proposta representem fragmentos de dois “tipos” distintos de intestino.

A figura 1 representa um intestino delgado cujas células de revestimento não possuem microvilosidades, enquanto a variedade ilustrada na figura 2 contém microvilosidades (as dobras do papel). Apesar de os dois fragmentos “intestino” exibirem mesmo comprimento e largura, não podemos dizer o mesmo em relação às suas respectivas superfícies. Para que possamos compreender essa diferença, vamos estabelecer valores arbitrários para a extensão das dobras que representam as microvilosidades, conforme a figura a seguir.

Considere que cada segmento da dobra do papel (seta amarela) tenha 1 centímetro. Sendo assim, cada “microvilosidade” (= dobra) tem 2 centímetros de comprimento (1 centímetro de cada lado) por 5 cm de largura. Isso significa que cada “microvilosidade” tem uma área é de 10 cm² (2 cm x 5 cm).

Nos 10 cm de extensão do pedaço de papel (que representa um fragmento da parede do intestino delgado) encontramos 8 “microvilosidades” (= 8 dobras). Sabemos que cada uma tem área de 10 cm², portanto, as 8 “microvilosidades” representam uma área de 80 cm² (8 microvilosidades x 10 cm²).

Então, no nosso exemplo, o fragmento de intestino delgado com dimensões de 10 cm x 5 cm (comprimento x largura), devido à presença de microvilosidades, exibe uma superfície de 80 cm². Por isso, esse fragmento absorveu mais água (12 mL), como visto no enunciado da questão.

E a fração de “intestino delgado” sem microvilosidades, representado pela figura 1 do enunciado? Esse fragmento possui as mesmas dimensões que o da figura 2, ou seja, 10 cm x 5 cm (comprimento x largura), mas, devido à ausência de microvilosidades, sua superfície é de 50 cm² (10 cm x 5 cm). Como resultado, esse fragmento absorveu menor volume de água (8 mL).

A comparação entre esses dois fragmentos, evidencia a importância das microvilosidades: aumentam a superfície de absorção do intestino, sem que seja necessário aumentar proporcionalmente a extensão desse órgão.

Concluímos, então, que o experimento de absorção de água com os papéis liso e com dobras demonstra que a função das microvilosidades intestinais é aumentar a superfície de absorção de nutrientes.