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QUESTÃO ENEM RESOLVIDA: EVOLUÇÃO | FOSSILIZAÇÃO | ESTRATIGRAFIA

A análise de esporos de samambaias e de pólen fossilizados contidos em sedimentos pode fornecer pistas sobre as formações vegetais de outras épocas. No esquema a seguir, que ilustra a análise de uma amostra de camadas contínuas de sedimentos, as camadas mais antigas encontram-se mais distantes da superfície.

Essa análise permite supor-se que o local em que foi colhida a amostra deve ter sido ocupado, sucessivamente, por

A) floresta úmida, campos cerrados e caatinga.

B) floresta úmida, floresta temperada e campos cerrados.

C) campos cerrados, caatinga e floresta úmida.

D) caatinga, floresta úmida e campos cerrados.

E) campos cerrados, caatinga e floresta temperada.

A questão proposta abrange, em maior ou menor grau, conhecimentos relativos à paleontologia, estratigrafia, botânica e ecologia.

Paleontologia é o estudo da vida pré-histórica, na forma de fósseis. O objetivo dessa ciência é compreender o surgimento das espécies, sua evolução e distribuição no espaço e no tempo. A paleontologia, portanto, tem nos fósseis o seu objeto de estudo.

Fósseis são restos ou evidências de vida pré-histórica. Há fósseis de partes ósseas, conchas, tecidos moles, penas, ovos, folhas, caules e muitas outras partes de animais e vegetais. Além disso, pelos, fezes, rastros, pegadas e outros indícios de vida pré-histórica são também considerados fósseis. O registro fóssil é uma evidência significativa da evolução biológica, além de constituir uma ferramenta importante para compreender esse processo.

A formação de um fóssil depende de fatores variados. Os restos de um organismo (seja animal ou vegetal), caso fiquem expostos na superfície, muito provavelmente serão totalmente decompostos, não sofrendo, portanto, fossilização.

Todavia, se logo após a morte o organismo for enterrado em ambiente com pouco ou nenhum oxigênio – sob sedimentos depositados pela água, por exemplo – poderá se fossilizar. A ausência de oxigênio impede que microrganismos decomponham totalmente os restos mortais, preservando certas partes do corpo (comumente os ossos), que poderão, ao longo de milhares de anos, passar por processos de fossilização.

Processo de fossilização. Clique na imagem para ampliar.

Os fósseis são encontrados tipicamente em rochas sedimentares. Essas rochas se formam pela lenta deposição de fragmentos (sedimentos) provenientes da desagregação de outras rochas, podendo, ainda, originarem-se da precipitação química de sais ou do acúmulo de resíduos orgânicos de animais e plantas.

As rochas sedimentares, com raras exceções, ocorrem em estratos (= camadas) sobrepostos resultantes do próprio processo de sedimentação que as originou. Essa disposição em estratos situados uns sobre os outros recebe o nome de estratificação. O estudo da sequência em que os estratos se formaram, bem como de sua espessura e distribuição espacial, constitui uma área da geologia denominada estratigrafia. Devido à presença de fósseis, os estratos sobrepostos de rochas sedimentares formam um importante registro das eras geológicas.

Pela localização dos fósseis nos estratos geológicos é possível determinar aqueles que são mais antigos ou mais recentes do que os outros. Fosseis encontrados nos estratos mais profundos, ou seja, que se formaram há mais tempo, são mais antigos do que os fósseis situados nos estratos superiores, pois essas camadas são mais recentes.

A localização dos estratos e a datação relativa dos fósseis. Clique na imagem para ampliar.

A análise de esporos e grãos-de-pólen encontrados nos estratos geológicos permite deduzir como era a paisagem de uma área há milhões de anos. Comparando os dados obtidos nos diferentes estratos, é possível descrever as modificações ocorridas na paisagem desse ambiente ao longo de vários períodos geológicos até a atualidade.

Para responder a essa questão devemos verificar as características da vegetação dos dos ecossistemas propostos nas alternativas: campos cerrados, caatinga, floresta úmida e floresta temperada.

Os campos caracterizam-se por exibirem vegetação predominantemente herbácea, constituída por gramíneas.

A caatinga é um ecossistema que exibe clima semiárido e, portanto, com índices pluviométricos reduzidos. Sendo um ambiente seco, apresenta flora constituída por espécies adaptadas a escassez de água como as cactáceas.

As florestas úmidas são formações vegetais densas, com árvores de grande porte. Além das árvores, nesse ecossistema também são encontradas samambaias, cipós e epífitas. Epífitas (geralmente orquídeas e bromélias) são plantas que crescem sobre o caule e/ou galhos das grandes árvores para ter acesso a mais luminosidade.

Florestas temperadas, por sua vez, não exibem a mesma exuberância que as florestas úmidas. Nesse tipo de formação vegetal, não encontramos cipós e epífitas, por exemplo.

Correlacionando essas informações com aquelas fornecidas pela figura da questão, temos o seguinte:

1. Camada mais profunda (mais antiga): muitos esporos de samambaias, pólen de cipós e epífitas. Essa formação vegetal é condizente com a de uma floresta úmida, ambiente favorável à multiplicação de pteridófitas, como as samambaias, que dependem da água para reprodução. Além disso, nesse ecossistema com muitas árvores de grande porte, é também comum a presença de epífitas. Tais plantas de pequeno porte, caso ficassem no nível do solo, não teriam acesso a luminosidade suficiente para realização de fotossíntese. Sendo assim, crescem nos caules e troncos das grandes árvores, onde têm acesso à maior disponibilidade de luz.

2. Camada intermediária: predomínio de pólen de gramíneas e quase nenhum pólen de epífitas. Essas características correspondem ao que se esperaria de um ecossistema como o cerrado. No cerrado típico, não há somente gramíneas (capim, grama), pois há árvores e arbustos também. Contudo essas plantas não formam uma vegetação densa e fechada como se verifica nas florestas.  

3. Camada superficial (mais recente): abundância de pólen de cactos. Os cactos são vegetais adaptações para sobrevivência em locais onde há escassez de água, como por exemplo, a caatinga. Essas plantas têm raízes profundas para atingir o lençol freático onde obtém água (escassa nas camadas superficiais do solo). Apresentam também folhas transformadas em espinhos, o que reduz muito a perda de água por transpiração e evaporação. Além disso, possuem tecido capaz de armazenar água: o parênquima aquífero.

A partir dessa análise podemos concluir que o ambiente cujas camadas de sedimento foram estudadas exibiu inicialmente uma floresta úmida, em seguida, uma vegetação condizente com campos cerrados e, por fim paisagem característica de caatinga (alternativa A). A figura a seguir identifica as formações vegetais relativas a cada estrato analisado.