ENEM Zoologia: Como o Exoesqueleto Garantiu o Sucesso dos Aracnídeos na Terra

Aranhas, escorpiões, ácaros e carrapatos são mais do que pequenos animais que, volta e meia, encontramos por aí. Eles são exemplos notáveis de como a evolução produziu estratégias eficientes de sobrevivência no ambiente terrestre. Esta questão do ENEM 2020 destaca um ponto importante da biologia evolutiva: por que os aracnídeos conseguiram prosperar fora da água? Entenda, com base nos conceitos de fisiologia e adaptação, como o exoesqueleto de quitina contribuiu para a conquista dos habitats secos.

Aranhas, escorpiões, carrapatos e ácaros são representantes da classe dos Aracnídeos. Esses animais são terrestres em sua grande maioria e ocupam os mais variados hábitats, tais como montanhas altas, pântanos, desertos e solos arenosos. Podem ter sido os primeiros representantes do filo Arthropoda a habitar a terra seca.

A característica que justifica o sucesso adaptativo desse grupo na ocupação do ambiente terrestre é a presença de

A) quelíceras e pedipalpos que coordenam o movimento corporal.

B) excreção de ácido úrico que confere estabilidade ao pH corporal.

C) exoesqueleto constituído de quitina que auxilia no controle hídrico corporal.

D) circulação sanguínea aberta que impede a desidratação dos tecidos corporais.

E) sistema nervoso ganglionar que promove a coordenação central do movimento corporal.

Uma das medidas do sucesso evolutivo é representada pelo número de espécies diferentes que compõem um grupo de organismos, ou seja, a diversidade existente nesse agrupamento. No reino Animalia, esse parâmetro demonstra que os artrópodes (Filo Arthropoda) constituem o grupo com maior sucesso evolutivo. Estima-se que exista um número superior a um milhão de espécies de artrópodes ocupando os mais variados hábitats e nichos ecológicos.

Tradicionalmente o filo dos artrópodes abrange as classes dos insetos (ou hexápodes), dos aracnídeos (aranhas, escorpiões e ácaros), dos crustáceos (lagosta, camarão, tatuzinho-de-jardim, por exemplo), dos diplópodes (piolhos-de-cobra) e dos quilópodes (lacraias).

Evidências provenientes de estudos evolutivos moleculares e morfológicos indicam que os insetos e crustáceos compartilham um ancestral que é mais recente do que o ancestral comum para qualquer um deles e os demais artrópodes. Como consequência dessa afinidade evolutiva, foi proposto o grupo dos Pancrustáceos, que engloba insetos e crustáceos. Atualmente, considera-se que os artrópodes são constituídos por três linhagens: quelicerados (cujos representantes principais são os aracnídeos), pancrustáceos (insetos e crustáceos) e miriápodes (representados pelos diplópodes e quilópodes).  O cladograma a seguir ilustra a visão atual das relações evolutivas (filogenia) entre os artrópodes.

Proposta de filogenia para os artrópodes. Clique na imagem para ampliar.

Os artrópodes têm em comum o fato de exibirem simetria bilateral, serem triblásticos, celomados e protostômios, além de exibirem segmentação corporal e um esqueleto externo ou exoesqueleto.  

Nos artrópodes, a segmentação corporal envolve a presença de tagmas, que representam grandes segmentos (cabeça, tórax, opistossoma etc) resultantes da fusão de segmentos menores.

Segmentação corporal nos principais grupos de artrópodes. Clique na imagem para ampliar.

Outra característica básica dos artrópodes é a presença de um exoesqueleto. O principal componente desse esqueleto externo é o polissacarídeo nitrogenado quitina. Em alguns grupos, tais como os crustáceos, além da quitina, ocorre acúmulo de calcário.

Detalhes da estrutura do exoesqueleto de um artrópode. Clique na imagem para ampliar.

A epiderme é o tecido responsável por secretar o exoesqueleto, cuja estrutura exibe três regiões: epicutícula, exocutícula e  endocutícula. A epicutícula, região mais externa do exoesqueleto é composta por proteínas e pode estar impregnada com ceras, principalmente nos artrópodes que vivem em ambientes terrestres. A exocutícula (camada situada imediatamente abaixo da epicutícula) e a endocutícula (camada mais profunda do exoesqueleto) são constituídas por quitina e algumas proteínas.

A presença do exoesqueleto resultou na característica mais marcante desse grupo de animais, os apêndices articulados. Apêndices são as estruturas conectadas ao eixo principal do corpo: patas, antenas, componentes do aparelho bucal e asas, por exemplo. Como os apêndices são recobertos pelo exoesqueleto – que é rígido – é necessário que sejam constituídos por partes que se articulem, de modo a permitir a movimentação.

Alguns apêndices de um inseto. Clique na imagem para ampliar.

Além disso, o exoesqueleto determina um padrão de crescimento bastante distinto daquele observado em outros grandes grupos de animais. Nos artrópodes, o crescimento se dá por meio de mudas (= ecdises) periódicas, nas quais um novo exoesqueleto é produzido abaixo do existente. O velho exoesqueleto será eliminado e o novo, que ainda não se tornou rígido, permite o crescimento do animal. A partir do momento em que o novo exoesqueleto enrijece, cessa o crescimento do artrópode. Portanto, nesses animais, o crescimento não é contínuo, ocorrendo apenas nos períodos em que há muda do exoesqueleto. O gráfico a seguir representa o crescimento por mudas observado nos artrópodes.

Crescimento por mudas (= ecdises). Clique na imagem para ampliar.

O sucesso evolutivo dos artrópodes resultou de vários fatores anatômicos e fisológicos. A variedade de estruturas bucais (“aparelhos bucais”) possibilitou a exploração de distintas fontes alimentares, o tamanho reduzido contribuiu para fugir dos predadores ou para captura de presas.

O exoesqueleto também foi um elemento importante para o êxito evolutivo dos artrópodes. Essa estrutura, além de conferir um ponto de fixação e apoio para atividade dos músculos, atua como mecanismo de proteção contra choques mecânicos Devido a sua natureza impermeável, impede a perda excessiva de água por evaporação, permitindo a dispersão desses animais pelos variados tipos de ecossistemas terrestres.

O filo dos artrópodes é o maior grupo de animais em termos de diversidade, ou seja, número de espécies. Isso representa o sucesso evolutivo alcançado por esses animais. Constituem esse filo os insetos (borboletas, baratas e mosquitos, por exemplo), os crustáceos (tais como as lagostas e camarões), os aracnídeos (aranhas, escorpiões e ácaros), os diplópodes (piolhos-de-cobra) e os quilópodes (lacraias).

Análises  de filogenia (relação evolutiva) tanto molecular quanto anatômica indicam que insetos e crustáceos são mais próximos entre si do que em relação à quaisquer outros grupos de artrópodes. Devido a isso, essas duas classes formam um agrupamento maior denominado Pancrustáceos.

Os aracnídeos são artrópodes que, em conjunto com outros grupos atuais e fósseis constituem a linhagem dos quelicerados. Aracnídeos são representados atualmente pelas aranhas, escorpiões e ácaros (como, por exemplo, o carrapatos). Exibem quatro pares de patas, corpo dividido em prossoma (parte anterior) e opistossoma (porção posterior) e não apresentam antenas.

Alguns aspectos da anatomia de um aracnídeo. Clique na imagem para ampliar.

Dentre os aracnídeos, há várias espécies predadoras, tais como aranhas e escorpiões, mas, também existem formas parasitas, como os carrapatos.

Como qualquer artrópode, os aracnídeos têm exoesqueleto de quitina e apêndices (patas, pedipalpos e quelíceras, por exemplo) articulados. O exoesqueleto desses animais fornece proteção contra choques mecânicos, além de constituir ponto de apoio para fixação e contração dos músculos.

Por recobrir toda a superfície corporal do aracnídeo, o exoesqueleto impede a perda excessiva de água pelos tecidos. Devido a essa proteção, os aracnídeos podem, então, ocupar variados ecossistemas terrestres, dos mais úmidos aos mais secos. A ocupação de ambientes variados favoreceu à diversificação desse grupo de animais.

Portanto, o exoesqueleto constitui, para os aracnídeos e demais artrópodes, um dos principais fatores responsáveis pelo sucesso evolutivo na ocupação de ambientes terrestres, na medida em que contribui para a manutenção das quantidades adequadas de água para o organismo (controle hídrico corporal), independentemente do tipo de ecossistema em o animal se encontre.

A questão proposta solicita a característica que justifica o sucesso evolutivo/adaptativo dos aracnídeos na ocupação do ambiente terrestre. Essa característica é o exoesqueleto que, por impedir a perda de excessiva de água, contribui muito para o controle hídrico corporal (alternativa C).

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